terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Quando as Girafas Baixam o Pescoço




«A Mulher dos Lábios Vermelhos atira limões pela janela para acertar em aves intrometidas, ou espreme-os, lascivamente, em partes do corpo. Há uma “luz cor de limão” na casa onde vivem a Irmã Móvel e a Irmã Quieta, onde o sol é um simples ovo estrelado. Há um envelope amarelo no apartamento da Mulher Gorda, que é uma memória, essa “ âncora que nos prende ao Inferno”. Há lombadas amarelecidas na casa do Homem que Gosta de Livros, com milhares de palavras que o separam da mulher.
Sob um toldo amarelo, está a retrosaria onde Cátia com C de Cão tem frio e lembra o seu país longínquo. O ouro de um fio rutila no peito de um pintas, dentro do elétrico. E há arboricídios nos jardins municipais feitos por funcionários de coletes cítricos. Tudo isto evoca o título do romance anterior de Sandro William Junqueira: No Céu Não Há Limões. Aqui, em Quando as Girafas Baixam o Pescoço, nem homens nem árvores morrem de pé, o paraíso prometido não chega, o coração apodrece de mágoa ou desistência.»

As Girafas Baixam o Pescoço, Sandro William Junqueira, Caminho, 2017. 

Sem comentários:

Enviar um comentário