terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Quando as Girafas Baixam o Pescoço




«A Mulher dos Lábios Vermelhos atira limões pela janela para acertar em aves intrometidas, ou espreme-os, lascivamente, em partes do corpo. Há uma “luz cor de limão” na casa onde vivem a Irmã Móvel e a Irmã Quieta, onde o sol é um simples ovo estrelado. Há um envelope amarelo no apartamento da Mulher Gorda, que é uma memória, essa “ âncora que nos prende ao Inferno”. Há lombadas amarelecidas na casa do Homem que Gosta de Livros, com milhares de palavras que o separam da mulher.
Sob um toldo amarelo, está a retrosaria onde Cátia com C de Cão tem frio e lembra o seu país longínquo. O ouro de um fio rutila no peito de um pintas, dentro do elétrico. E há arboricídios nos jardins municipais feitos por funcionários de coletes cítricos. Tudo isto evoca o título do romance anterior de Sandro William Junqueira: No Céu Não Há Limões. Aqui, em Quando as Girafas Baixam o Pescoço, nem homens nem árvores morrem de pé, o paraíso prometido não chega, o coração apodrece de mágoa ou desistência.»

As Girafas Baixam o Pescoço, Sandro William Junqueira, Caminho, 2017. 

domingo, 11 de dezembro de 2016

Prémio Pessoa 2016 - Frederico Lourenço

Fotografia de Marcos Borga


"Não se chega à tradução da Bíblia sem um caminho percorrido. Nem, provavelmente, sem um dom. Frederico Lourenço, que em criança chegou a pensar em ser teólogo, e ao longo da vida adquiriu conhecimento em várias línguas é afinal, e sobretudo, o helenista que, nos últimos anos, mais contribuiu para a uma compreensão alargada das raízes gregas da nossa civilização, ao traduzir e explicar os seus textos fundadores, a “Ilíada” e a “Odisseia”. 

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sábado, 15 de outubro de 2016

Bob Dylan Nobel da Literatura 2016


Numa atitude irreverente e de mudança a Real Academia Sueca das Ciências, distinguiu na passada quinta feira, o cantor Bob Dylan com o Nobel da Literatura, por ter criado uma nova expressão poética na canção americana. 


domingo, 9 de outubro de 2016

Escritor Possidónio Cachapa em Ponta Delgada

Fotografia Helena Frias

O escritor Possidónio Cachapa apresentou na passada quinta-feira o seu novo romance " eu sou uma árvore", na Biblioteca Publica e Arquivo de Ponta Delgada, numa iniciativa da Direção Regional da Cultura, estando a apresentação da obra a cargo da Doutora Ana Cristina Gil, docente da Universidade dos Açores.
Ana Cristina Gil, na sua apresentação, afirmou que neste romance encontramos três eixos nucleares: primeiro a história de uma família, tendo na sua génese a incomunicabilidade  entre os  seus membros e uma vincada solidão" « Talvez até tenha dito. Mas este não ouviu (...) Pai, fiz uma descoberta...» ia dizer, mas não disse. Durante anos e anos, não disse." ; um retrato de época de um país, Portugal, salazarista, provinciano, tacanho, onde o lugar das mulheres se o há, é pura submissão, muito menos lugar para a homossexualidade; por último a existência humana, e a procura de uma identidade nacional, numa reflexão sobre onde nascemos, aquilo que somos e para onde vamos.
Durante a sessão o escritor respondeu a questões colocadas pelos presentes na sala, assim como aos que estavam em direto através da aplicação do Facebook. Possidónio Cachapa explicou a importância dos livros, sendo estes um meio que nos ajuda a saber mais e a compreender melhor o mundo. Disse ainda que "os livros não se contam leem-se", desvendando um pouco do livro e do seu método de criação literária, e que neste caso levou 7 anos a concluir o romance.  
O autor acredita na redenção do Homem, na redenção da humanidade, fazendo sentir essa crença, quando possibilita a Samuel personagem basilar de "eu sou uma árvore", a sua própria redenção «Então, finalmente, Samuel abriu os olhos, (...) e, num grito que se ouviu bem longe, fez saber que continuaria vivo. Que estava vivo. Ali, agora. No lugar que escolhera chamar «casa». A sua. Até ao fim.»
Possidónio Cachapa, escritor traduzido em várias línguas, agora publicado pela importante editora Companhia das Letras, nesta sessão evidenciou uma boa interação com os poucos leitores presentes no evento. O escritor nascido em Évora, viveu na ilha Terceira no arquipélago dos Açores durante alguns anos.  O autor destacou-se no panorama literário com o emblemático romance "Materna Doçura" (1998), aclamado pela crítica e considerado um dos maiores escritores da sua geração, para além da escrita, revelou a faceta de realizador de cinema com o filme "Adeus á Brisa", sobre vida e obra de Urbano Tavares Rodrigues.